Quando eu era pequeno...eu não tinha jeito nenhum para dançar. Era muito desajeitado; como se costuma dizer, tinha dois pés esquerdos, embora estivesse cada um devidamente virado para o seu lado.
Quando já andava na faculdade decidi ir aprender danças. Eu achava mesmo piada àquilo.A séerio...... não era só para arranjar miúdas.
As aulas tinham quatro níveis:
O “não dá uma para a caixa”; o “vai se amanhando”; o “garanhão” e o “Homossexual”.
Eu comecei no primeiro onde me encaixava perfeitamente, mas com o tempo fui acertando na caixa (sei lá o que é que isso quer dizer), fui me amanhando e fiquei um verdadeiro garanhão. A sério, isto de dançar dá um jeito enorme com as raparigas.
- Oh se dá.
Mas o problema foi quando eu já estava a dançar mesmo muito bem. Pois é.
O meu professor veio falar comigo e disse-me que eu não podia aprender a dançar melhor.
-Mas porquê?
- Se dançar melhor você tem de ser Homossexual?
- Ser Homossexual? – perguntei – Isso agora não dá jeito nenhum. Numa fase destas ? Pah, que maçada.
- Pois. Tem de ser. São as regras do clube. Confirmou ele.
Naquela de descobrir como funciona isto da homossexualidade fui até à Opus Gay. Talvez encontrasse alguma forma de ser sem o ser.
Quando lá cheguei fui recebido pelo angariador de novos membros: um tipo bronzeado que utilizava uma t-shirt justa em rede e falava Brasileiro.
Comecei por perguntar de que zona do Brasil ele era, mas ele respondeu logo que não era brasileiro. O sotaque era apenas uma questão de imagem. Um brasileiro dá sempre um homossexual mais credível. Segundo ele, homossexuais portugueses são muito banais. Não quis discutir isso com ele. Deixei-o levar a bicicleta.
Depois comecei a perguntar se eu podia ser homossexual sem o ser realmente. Ele lá ficou a pensar sobre o assunto. Mas depois tentava ver logo se me convencia:
-Olha que isto de ser homossexual é giro. Vestimos umas roupas giras, temos umas festas nices.é bacano.
- Sabes? –respondia eu- Eu até não tenho nada contra, mas é que agora não dá jeito. Tive tanto trabalho para construir uma imagem de Gáijo e agora até já conseguia arranjar umas raparigas.
- Mas olha que elas gostam sempre mais dos homossexuais.
- Mas de que é que me vai servir se eu for Homossexual ?
Lá continuámos, mas para mudar de assunto fui lhe explicando alguns pontos porque eu devia receber o cartão de homossexual, sem fazer nada mais hard-core.
Expliquei-lhe que também fazia teatro. Aí ele insistiu que eu dava um bom Homossexual e que para ser bom no teatro também tinha de o ser. Mas aí eu expliquei que não pretendia ser bom actor, preferia vir a escrever peças.
Continuámos a conversa e ele explicou que sendo Homossexual eu teria de pagar quotas para a Opus Gay. Respondi logo que não havia problema com isso. Mas depois ele disse que eu tinha de ir às reuniões. E foi aí que eu fiquei mais preocupado. Eu já tenho tão pouco tempo livre...
- Durante a semana estou ocupadíssimo e ao fim de semana tenho as reuniões do Movimento ........ –expliquei eu
Com muita insistência ele acabou por concordar.
Mas depois continuamos com algumas conversas até que ele perguntou se eu gosto de crianças. E eu respondi:
- Muito. Já tenho trabalhado com crianças em várias circunstâncias e de várias idades e com vários tipos de problemas. Gosto muito de trabalhar como educador ou simplesmente brincar com elas. Acho que nos ensinam muita coisa e tornam a vida muito agradável. Eu próprio sou uma criança assumida.
- Então não pode-respondeu ele- Os homens não podem gostar de crianças. Só as Mulheres. Se um homem gostar de crianças de certeza que é pedofilo e não queremos relacionar isso com os homossexuais, porque depois vêm os jornais a dizer que há uma ligação e podemos voltar a ser perseguidos. E isso não pode ser,claro.
Claro que o convenci de que os meus métodos com crianças não envolviam nada que pudesse ser recriminado ou ser de alguma forma considerado imoral, mas ele não me quis ouvir. Disse que eu não poderia ser Homossexual em nenhumas circunstâncias e que deveria largar imediatamente as danças e o teatro.
Pronto, assim o fiz. Larguei as danças e o teatro. Apenas faço um bocadinho de vez em quando, para seduzir uma rapariga, mas não posso fazer muito. Não vá eu melhorar.
Voltei para as artes marciais, para a minha vida política e para a faculdade como um bom heterossexual que sou.E foi esta a história da minha viagem ao Mundo da Homossexualidade.